domingo, 27 de janeiro de 2008

TEX NA GUERRA DE SECESSÃO

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FAROESTE ITALIANO EM QUADRINHOS:
TEX NA GUERRA DE SECESSÃO

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES
Disciplina: Oficina de Leitura Crítica de Histórias em Quadrinhos
Docente: Waldomiro Vergueiro
Alunos: Otavio Kapor da Fonseca
Edson Luiz Fogo

São Paulo, 8 de junho de 2005.





FAROESTE ITALIANO EM QUADRINHOS:
TEX NA GUERRA DE SECESSÃO

SUMÁRIO

1 – Introdução
2 - Tex: o personagem
3 – Os autores
4 – Publicações de Tex pelo mundo
4.1 - Tex pelo mundo
4.2 – Tex no Brasil
5 – A Guerra de Secessão
5.1 - Tex Willer e a Guerra de Secessão
5.1.1 - Tex na Guerra
5.1.2 - Tex no pós-Guerra
6 – Considerações Finais
7 – Bibliografia
7.1 – Artigos
7.2 – Sites da Internet
7.3 – Enciclopédias
7.4 – Revistas de Histórias em Quadrinhos




1 - Introdução
O cowboy do Oeste americano Tex Willer, personagem criado em 1948 pelos italianos Giovanni Luigi Bonelli e Aurélio Galleppini, é um raro caso de longevidade no mundo das histórias em quadrinhos. Publicado no Brasil entre fevereiro de 1951 e julho de 1957 na Revista Junior (Rio Gráfica Editora) e ininterruptamente desde fevereiro de 1971 (Editoras Vecchi, Globo e Mythos), Tex conquistou uma grande quantidade de admiradores no Brasil.
A grande quantidade de admiradores existentes no Brasil possibilita a publicação de duas revistas mensais (Tex e Tex Coleção), diversas revistas com periodicidade bimestral ou irregular (Tex Edição Histórica, Tex Ouro, Tex e os Aventureiros, Almanaque Tex e Tex Gigante) e outras (Tex Anual e Tex Especial de Férias). Também possibilita a existência de páginas na Internet: Portal TEXBR, site oficial das publicações da Sergio Bonelli Editores no Brasil, disponível em ; e Tex World, disponível em .
O enorme interesse por Tex no Brasil justifica uma análise do personagem e de suas histórias.
O Portal TEXBR mostra uma classificação de temas das aventuras de Tex[1]. São listados dezessete temas: caça ao tesouro; roubo de gado; posse de terras; assalto a trens; assalto a bancos; racismo; Guerra de Secessão; os militares; os índios; vingança; busca ao ouro; caçadores de recompensa; caçadores de escalpos; religião; falsificação de dólares; espionagem/sabotagem; e caravanas de pioneiros.
Com o objetivo de analisar a evolução do personagem e de suas histórias desde sua criação, escolhemos estudar as histórias relacionadas ao tema “Guerra de Secessão”, pela impossibilidade analisar a totalidade da produção editorial de Tex (57 anos) e pela facilidade de acesso às revistas com essa temática, pois consultamos vários exemplares em nosso acervo particular, em coleções de amigos e no acervo do Núcleo de Pesquisa em Histórias em Quadrinhos da ECA (NPHQ).
A metodologia consistiu na leitura e consulta das coleções de Tex, consulta à livros e enciclopédias que abordassem o tema “Guerra de Secessão”, visita à páginas da Internet com informações sobre a Guerra e sobre Tex .

2 - Tex: o personagem
Itália no dia 30 de setembro de 1948 surgiu a primeira história de Tex Willer. Chamava-se “Il Totem Misterioso”. Publicada inicialmente no formato de tiras semanais, uma aventura se completava ao final de 96 tiras, obrigando os leitores a comprar sempre a próxima edição para chegar ao fim da aventura. Mas Tex fez tanto sucesso que passou a ser publicado no formato revista.
Em suas primeiras histórias Tex era um fora-da-lei com o rosto em cartazes de recompensa. Mas as autoridades analisaram sua situação, lhe ofereceram perdão e o convidaram para fazer parte dos Rangers.
Antes disso era rancheiro em Rock Springs no estado do Texas, na fronteira com o México:

“Meu pai tinha um pequeno rancho no sul do Texas. Como éramos só três ... meu pai, meu irmão Sam e eu, pra nós era até demais! Ah, havia também o velho Gunny Bill! Ele fazia um pouco de tudo! Cozinheiro,domador de cavalos e vaqueiro! Quando tinha uma tempo livre, gostava de azeitar seus revólveres! Foi ele que me ensinou vários truques pra sacar e atirar rápido e certeiro.”![2]

Seis bandidos roubam o gado e matam o pai de Tex. Contrariando seu irmão, Tex atravessa a fronteira com Gunny Bill, vai até a cidade de Jimenez, localiza e executa os bandidos. Perseguidos pelos policiais “rurales” mexicanos, Gunny Bill morre e Tex consegue escapar:

“Quando alcançamos os ladrões, eles já tinham se livrado da nossa manada e ido pra Jimenez gastar a grana! Lá, encontramos os cretinos numa pousada e matamos todos eles!
(...) Os rurales mataram Gunny! E por um triz não me matam também!"[3]

Desiste da vida de rancheiro, abandonando o rancho para o irmão. Arranja emprego como peão de rodeio no Circo dos Irmãos Corlis, que estava na cidade de San Antônio. Numa aposta com os proprietários do Circo ganha o cavalo Dinamite que o acompanharia por várias aventuras.

Depois de três anos no Circo passando por várias cidades chega a notícia de que seu irmão Sam havia sido assassinado em Culver City (onde tinha estabelecido-se após vender o rancho de Rock Springs) por Tom Rebo, ladrão de gado e proprietário de todos os “saloons” da cidade. Decidido a vingar o irmão, Tex vai ao encalço dos assassinos, incendiando o antigo rancho que fora tomado de Sam e liquidando Tom Rebo e seu bando. Mas Steve Mallory, xerife de Culver City e membro do bando de Tom Rebo, já havia telegrafado às cidades vizinhas pedindo auxílio e assim Tex passou a ser o fora-da-lei procurado que das primeiras histórias.
Tex percebe a chance de ver retirada essas acusações ao socorrer um batedor do forte Two Milles, que assaltado, acaba por falecer no exato momento que se aproxima um destacamento de soldados. Tex livra-se dos soldados e uma semana depois invade disfarçadamente o forte para esclarecer sua situação e faz um acordo com o comandante: traria os verdadeiros culpados em troca da retirada de todas as acusações.
Promessa cumprida e acusações retiradas, é apresentado a Herbert Marshall (chefe dos Rangers) que o convida para ser um ranger. Convite aceito é apresentado a outros dois rangers: Kit Carson e Arkansas Joe.

Kit Carson, na vida real era um militar americano que chefiou campanhas contra os índios navajos. Giovanni Luigi Bonelli, criador de Tex, revelou que o Kit Carson das histórias em quadrinhos foi inspirado no personagem homônimo criado pelo italiano Rino Albertarelli, e não no militar americano que realmente existiu. Nas aventuras iniciais de Tex, Kit Carson esporadicamente participa de alguma missão com Tex, mas conforme o tempo passa, tornam-se parceiros inseparáveis.
Investigando uma denúncia de tráfico de armas no Arizona é aprisionado por índios navajos sublevados. Preso ao poste dos martírios e prestes a ser executado é salvo por uma índia navajo criada numa missão chamada Lilyth (ou Lírio Branco), filha do chefe Flecha Vermelha, que se oferece para casar com ele. Verdadeiramente apaixonados, o casal tem um filho Falcão Pequeno ou Kit Willer, em homenagem à Kit Carson.
Pouco depois do casamento Tex conhece Jack Tigre, índio navajo da mesma tribo de Lilyth, que estava de passagem na distante cidade de Santa Fé. Jack Tigre também torna-se companheiro inseparável de Tex.
No início da Guerra de Secessão Kit Willer também é nomeado ranger, apesar da pouca idade. Junto com Tex, Kit Carson, Jack Tigre e Kit Willer são os principais protagonistas.

Numa ocasião em que Kit Willer ainda era um bebê estava com uma tosse que o feiticeiro da tribo não conseguia curar, Tex resolve levar a criança até um médico na Missão de Taos, Lilyth fica na aldeia porque seu pai Flecha Vermelha estava doente. Na ausência dos dois, Lilyth morre durante um surto de varíola provocado por inimigos de Tex que distribuem cobertores infectados à aldeia. Defronte ao túmulo da esposa Tex jura vingança:

“A partir deste momento, não terei paz enquanto não matar todos aqueles que mandaram a morte cortar os laços que ligavam as nossas vidas! Eu serei a vingança que segue implacável as pegadas dos nossos inimigos! Ao meu lado, marcharão o ódio e o terror! E, atrás de mim, deixarei rastros banhados de lágrimas e sangue. Isso eu juro pra você, Lilyth! E tomo como testemunhas, o céu e o inferno, as estrelas da noite e a imensa escuridão do infinito! E você permanecerá cravada na terra, ó minha lança da vingança! Que nada possa parti-la, a não ser as mãos de quem a cravou!”[5]

Com a morte de Flecha Vermelha, sogro de Águia da Noite (nome de Tex entre os índios), Tex é nomeado líder dos índios navajos, caso único de um branco chefiando uma tribo indígena.
Tex sempre é requisitado pelo comando dos Rangers para a atuar em missões especiais, assim conduziu investigações em vários estados norte-americanos e no México, Canadá, Colômbia, Argentina, Bolívia e até na Oceania.
Passeia praticamente por toda a segunda metade do século XIX: as histórias de Tex jovem, fora-da-lei e campeão de rodeios se passam por volta de 1840; participa da Guerra da Secessão (1861-1865) desde o início, quando Kit Willer contava com 16 ou 17 anos[6]; e está presente na derrota do general Custer em 1876.

3 - Os autores
O escritor Giovanni Luigi Bonelli e o desenhista Aurélio Galleppini, conhecido por Gallep, são os criadores de Tex. A colaboração Bonelli-Gallep inicia-se em junho de 1948 na Editora Audace, quando ambos criaram Occhio Cupo e algum tempo depois Galep desenhou o primeiro roteiro de Tex, inicialmente chamado Tex Killer. O sucesso de Tex na Itália foi imenso ao contrário, de Occhio Cupo, que foi cancelado em pouco tempo.
Giovanni Luigi Bonelli (1908-2001), escritor e roteirista italiano nascido em Milão e falecido em Alessandria, começa sua carreira literária no início da década de 30 escrevendo para Corrieri dei Piccoli e Giornale Illustrato dei Viaggi. Na mesma década escreveu seus primeiros roteiros para a Editora Saev, que foram desenhados por Rino Albertarelli e Walter Molina. Começa a colaborar com as revistas juvenis de histórias em quadrinhos Il Vitorioso e Audace em 1936. Adquirindo o controle da editora em 1940 (junto com a esposa Tea Bonelli), reformulam a revista Audace publicando apenas um personagem com uma aventura completa em cada edição.
Bonelli publica muitos trabalhos de sua autoria na Editora Audace (futura Sergio Bonelli Editores), faroestes na maioria das vezes, mas também policiais, capa-e-espada, ficção-científica e histórias cômicas. Existem curiosas imitações de Tarzan (Yorga, 1945), Lone Ranger (Il Giustiziere del West, 1946), Mandrake (Ipnos, 1946) e Batman (Plutos, 1949). Em 1948 com o desenhista Aurélio Gallepini cria seu personagem mais longevo: Tex Willer.
O cenário das histórias é visitado por Bonelli pela primeira vez apenas em junho de 1988:

“Nunca fui antes porque a América sempre esteve na minha escrivaninha. Eu até assinava a revista ‘Arizona Highways’, e nela encontrava de tudo: paisagens, fotos, personagens, costumes, rituais. Todas as vezes que eu ia começar a escrever uma história, pegava um mapa da região e estudava a fundo, pesquisava montanhas, rios, tudo. Eu me documentava muito, e sei de gente que se documentou com base na minha documentação”[7]

Sergio Bonelli (que viria assumir a direção da editora em 1957), criador de Zagor e Mister No, colaborou extra-oficialmente e oficialmente (utilizando o pseudônimo de Guido Nolita) durante muitos anos com seu pai escrevendo episódios de Tex. Na metade da década de oitenta, Cláudio Nizzi, criador de Nick Raider, e Mauro Boselli, criador de Dampyr (junto com Maurizio Colombo), passaram a fazer parte da equipe de roteiristas de Tex.[8]
O desenhista que deu forma a Tex, Aurelio Galleppini (1917-1994), nasceu em Casale di Pare e faleceu em Chiavari. Profissionalmente começou reproduzindo desenhos inspirados em fábulas infantis para um representante de brinquedos que importou da Alemanha um pequeno projetor chamado Cine dux, colaborando com o jornal satírico Marc'Aurelio e com Modelina, suplemento feminino do Mattino Ilustratto de Nápoles. Fez sua estréia nas histórias em quadrinhos em 1938 desenhando as histórias de Pino, il Mozzo e Le Perle del Mar d'Oman na editora Mondadori. Após um ano de serviço militar na Aeronáutica, em 1941 Gallep trabalha para a Editora Nerbini na revista L'Avventuroso.
Depois da 2ª guerra mundial, Gallep dedica-se à pintura, leciona em dois colégios de Cagliari e volta a trabalhar na Editora Nerbini quadrinhizando Pinóquio e alguns episódios de Mandrake.
Na Editora Audace, a partir de 1948, as 32 tiras semanais de Tex eram desenhadas inteiramente por Gallep, mas com o excesso de trabalho começa a colaboração com Virgílio Muzzi e Francesco Gamba. A seguir entram na equipe de desenhistas Mario Uggeri, Guido Zamperoni e Lino Jeva. Esse esquema de trabalho funciona por quase vinte anos.
Em 1967, a produção passa para 110 páginas por mês, cada uma com três tiras, e a equipe de desenhistas passa a contar com profissionais que realizam episódios inteiros, é nesta fase que Giovanni Ticci, Erio Nicolò, e Guglielmo Letteri entram na equipe de Tex. Nesta época Gallep ilustra todas as capas e as principais aventuras de Tex e também dedica-se a desenhar outras histórias, entre elas O Homem do Texas, e a quadrinhização de Pinóquio e As Viagens de Gulliver. Na década de setenta os desenhistas Ferdinando Fusco e Luigi Corteggi também entram na equipe de Tex.
Gallep continuou produzindo até 1994, sempre tendo Tex como personagem principal:

“O meu modo de desenhar sempre foi o mesmo. Excluindo o início, quando era impossível para mim arranjar todo o material de referência, antes de começar uma nova história eu procuro os recortes de publicações que conservo num arquivo. Naturalmente também incluo os livros que possuo, aos quais recorro sobretudo para me inspirar quanto aos ambientes.
Há alguns anos graças ao auxílio do videocassete, revejo todos os filmes de faroeste que possam ter afinidade com a história a que estou me dedicando.”[9]

A partir da década de oitenta passam a integrar a equipe de desenhistas de Tex: Cláudio Villa, Fábio Civitelli, Miguel Angel Repetto (desenhista argentino que estréia em 1999 e a partir de 2002 passa a desenhar a série mensal italiana) e Roberto Diso (principal desenhista de Mister No, em edições especiais a partir de 2003). Com as edições especiais vários profissionais desenham histórias de Tex, entre eles: o neozelandês Colin Wilson; os italianos Alberto Giolitti, Bruno Brindisi, Roberto de Angelis; o croata Goran Parlov; e o norte-americano Joe Kubert.

4 – Publicações de Tex pelo mundo
4.1 - Tex pelo mundo
Em 1949, rebatizado como Colt Miller, el justicero, Tex passou a ser publicado na Argentina na revista semanal Rayo Rojo da Editorial Abril. A dificuldade de receber material da Itália fez com que se iniciasse a produção local de histórias de Tex, com roteiros de Julio Almada e desenhos de Carlos Cruz, que manteve a fidelidade ao espírito original do personagem.
Colt Miller é o único exemplo de produção de histórias de Tex fora da Itália. Mas vários outros países publicaram histórias de Tex: Alemanha, Brasil, Croácia, Dinamarqua, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Índia, Israel, Iugoslávia, Noruega, Portugal, Suécia, Tchecoslováquia e Turquia[10].
Os Estados Unidos, pátria de Tex Willer, só conheceriam o personagem em março de 2005 com a publicação, pela editora SAF Comics de “The Lonesome Rider”[11], desenhada por Joe Kubert e com roteiro de Cláudio Nizzi.
Fora da Itália, em 2002, Tex era publicado regularmente nos seguintes países: Brasil, Croácia, Finlândia, França, Noruega e Turquia. Na Itália, em 2005, são publicadas as revistas: Tex; Tutto Tex; Tex Tre Stelle; Tex Nuova Ristampa; Almanacco del West; Albo Speciale; e Maxi Tex.

4.2 - Tex no Brasil
A publicação de Tex no Brasil (rebatizado de Texas Kid) iniciou-se em fevereiro de 1951, no número 28 da revista semanal Junior, da Rio Gráfica Editora. No número 265 da revista Junior, publicada em julho de 1957, Tex apareceu pela última vez.
Em fevereiro de 1971, a Editora Vecchi publicou o primeiro número da revista Tex, obtendo um grande êxito. Em abril de 1977 começa a ser publicada a 2ª edição da revista Tex, republicação das revistas Tex apenas com os anúncios atualizados. Com a falência da Editora Vecchi em 1983, a edição normal de Tex foi interrompida no número 164 e a segunda edição no número 94.
Tex passou novamente a ser editada pela Rio Gráfica Editora (atual Editora Globo) em outubro de 1983. A Rio Gráfica Editora manteve a numeração, publicando o número 165 da edição normal e o número 94A da segunda edição, com a da história deixada incompleta pela Editora Vecchi. Em janeiro de 1987, já como Editora Globo, a 2ª edição é subsituída pela Tex Coleção (equivalente à Tutto Tex italiana), que publica as histórias na ordem cronológica que foram lançadas na Itália[12]. Também em janeiro de 1987 inicia-se a publicação da Edição Histórica (edição bimestral), também com as antigas histórias na ordem cronológica que foram lançadas na Itália, porém agrupadas em uma única revista
Comemorando os 40 anos de Tex, é publicada a edição especial Tex Gigante (equivalente ao Albo Speciale italiano), que a partir de março de 1999 passou a ter publicação regular na Editora Mythos.
Os últimos números publicados pela Editora Globo em dezembro de 1998 foram: Tex 350, Tex Coleção 143, Tex Edição Histórica 33. A Editora Mythos passa a publicar Tex em janeiro de 1999, mantendo a seqüência de numeração.
A Editora Mythos inicia a publicação de edições especiais com o lançamento em dezembro de 1999 de Tex Anual (Maxi Tex italiano) e de Almanaque Tex (Almanacco del West italiano), inicialmente bimestral e depois com periodicidade irregular, em março de 2000. Tex Ouro, com as melhores histórias de Tex em uma única revista e circulação bimestral, é lançado em julho 2002. Tex e os Aventureiros é lançado em fevereiro de 2005 e publica Tex junto com histórias de outros personagens da Sérgio Bonelli Editores: Martin Mystère, Zagor, Nick Raider, Dylan Dog, Mister No e Nathan Never.
Em 2005, a Editora Mythos também publica da Sérgio Bonelli Editores as revistas Zagor, Martin Mystère, Mágico Vento, Dylan Dog, Dampyr, Júlia e já publicou Ken Parker, Mister No e Nick Raider. Nathan Never volta a ser publicado no Brasil em maio de 2005 pela Ediouro, antes haviam sido publicadas oito números pela Editora Globo entre novembro de 1991 e junho de 1992.


5 - Guerra de Secessão

“Em 1861, os Estados Unidos da América mergulharam em uma sangrenta guerra civil que faz mais de seiscentos mil mortos. Naquele ano, os estados sulistas – retrógrados e escravagistas – rebelaram-se contra a União e iniciaram uma empreitada para se separar do resto do país. Abraham Lincoln, presidente dos EUA na época, se opôs duramente aos rebeldes e liderou os estados nortistas – democratas e industrializados – na luta para manter a nação coesa. Esse conflito, que duraria quatro violentos anos, tornou-se mundialmente conhecido como a Guerra da Secessão.”[13]

Guerra de Secessão foi o conflito militar ocorrido de 1861 a 1865 entre os estados industrializados e abolicionistas do norte dos Estados Unidos (a União) e onze estados agrários e escravocratas do sul (Virgínia, Carolina do Norte, Carolina do Sul, Tennessee, Geórgia, Flórida, Alabama, Mississipi, Arkansas, Lousiana, Texas).
Com a eleição do abolicionista Abraham Lincoln à presidência em novembro de 1860 a tensão política aumentou. Em dezembro sete estados escravocratas desligaram-se da União, aprovaram uma nova constituição e empossaram Jefferson Davis como presidente. Depois mais quatro estados aderiram aos Estados Confederados da América.
A União não aceitou a secessão e em abril tem início o conflito armado com os sulistas atacando o Fort Sumter, conquistado depois de trinta e seis horas de combate. Frente à agressão sulista, o congresso da União aprova a convocação de sessenta e cinco mil homens para o Exército.
Em setembro de 1862, Lincoln decreta a abolição da escravidão nos estados do sul (no norte desde 1820 a escravidão era proibida). Com a promessa de liberdade, os escravos fogem em massa para o norte.
Apesar de sofrer um bloqueio marítimo, os sulistas conseguem várias vitórias militares e ameaçam a capital Washington, mas em Antietam (setembro de 1862) e Gettysburg (julho de 1863) a União consegue suas primeiras vitórias significativas, freando o avanço do Exército Confederado.
A partir da derrota na Batalha de Gettysburg, o Exército Confederado foi obrigado “a manter uma guerra defensiva, condenada à derrota devido à baixa capacidade industrial e à insuficiência de provisões da região”[14]
Ainda no segundo semestre de 1863 as tropas da União, comandadas pelo general Ulysses Grant, obtêm vitórias em Vicksburg e Chattanooga, separando da Confederação os estados à oeste do rio Mississipi. Partindo dos estados conquistados, o general William Sherman atravessa a Geórgia e atinge o Oceano Atlântico em dezembro de 1863.
Com a divisão de seu território o Exército Confederado acumula derrotas até a rendição do general Lee Grant em Appomattox (9 de abril de 1865) e do general Albert Johnson na Carolina do Norte (26 de abril de 1865), que encerram as hostilidades.
Vários combatentes sulistas de tropas irregulares, por estarem envolvidos em execuções de militares desarmados e de civis, preferem a clandestinidade à rendição. Os irmãos Jesse e Frank James, os exemplos mais conhecidos de membros desses grupos, após a Guerra passaram a assaltar bancos e ferrovias.
O sul permaneceu ocupado militarmente até 1877. Surgiram a Ku Klux Klan e os Cavaleiros da Camélia Branca, organizações sulistas de resistência que, além de lutar contra a ocupação militar, pregavam a supremacia racial de brancos.
Uma ínfima parcela da população sulista preferiu imigrar para outro país escravocrata, o Brasil. Várias pessoas se fixaram no município de Santa Bárbara d’Oeste (SP) e fundaram o município de Americana (SP).

5.1 - Tex Willer e a Guerra de Secessão
5.1.1 - Tex na Guerra
Antes do início das hostilidades Tex envolve-se com os preparativos da Guerra. Em “O enigma do hipocampo”[15] Tex é convocado ao comando dos Rangers em Santa Fé para ajudar nas investigações sobre uma quadrilha responsável por numerosos homicídios, assassinato de cinco rangers, assaltos a bancos e a trens que transportavam ouro. A quadrilha, liderada pela bela Manuela Guzman e que usava um cavalo marinho ou hipocampo como símbolo, na realidade era a fachada de uma organização que financiava o Exército do México. Com o acesso à informações confidenciais, o México já tinha conhecimento da iminência da eclosão da Guerra e preparava-se para retomar territórios perdidos em 1848[16].
Ao retornarem à Santa Fé com o desmantelamento da quadrilha, James Hovendal (chefe dos Rangers) confirma oficialmente a iminência da Guerra e o que se espera dos Rangers:

“Os Rangers não tomaram parte nesta luta fraticida! Agirão como forças policiais pra reprimir atos de banditismo cometidos em qualquer parte! (...) Falei com Jefferson e conversamos com Lincoln! Ambos concordam com as tarefas a serem desenvolvidas pelos Rangers e, é claro, conto com vocês”[17]

Nesta ocasião Kit Willer também passa a fazer parte dos Rangers. Duas semanas depois, seguindo o rastro de uma caravana de pioneiros, percebem que estes são levados à uma armadilha orquestrada por brancos e índios pawnees. A caravana é salva pela chegada de um pelotão da cavalaria nortista comandada por um capitão nada simpático. O capitão nortista diz ao chefe branco dos navajos: “Índio bom é índio morto!”[18]
Tenente Okley do Serviço de Informações do Exército Confederado pede a colaboração de Tex, Kit Willer e Kit Carson para combater o bandido John Rackam em “Inferno em Pine Bluff”. Tex nega:

“Pelo simples motivo de não querermos tomar partido nem pelos nortistas nem pelos sulistas! O que podemos fazer é livrar esta região dos elementos que, com o pretexto da Guerra, espalham destruição e terror!
(...)
Não, tenente! Pra vocês, Rackam, Vernon e seus homens são pessoas que estão sabotando as linhas de abastecimento do exército em guerra! Pra mim são apenas bandidos da pior espécie!
(...) não podem acreditar que esses bandidos trabalhem por um ideal patriótico!”[19]

Apesar de negar apoio, em seguida se associam para combaterem o bando de Rackam que realmente era constituído de simples bandidos comuns e índios pawnees.
Em “Piutes!”[20] os rangers ao investigarem tráfico de armas envolvendo os índios piutes recebem a colaboração do tenente Robert, do Quinto Regimento do Exército Confederado. Tratado com cordialidade pelos militares sulistas, Tex revela que o traficante que ambos procuravam, o falso general do Exército Confederado Samuel Quantrill, não roubava armas dos sulistas para repassa-las aos nortistas e sim aos piutes. Avisada a guarnição nortista de Forte Russell também intervém e contribui para acabar com Quantrill e sua aliança criminosa.
À serviço dos Rangers, inicialmente neutro e colaborando cordialmente com nortistas e sulistas, Tex passa a ser partidário da União. Como batedor do Exército da União participa da batalha Passo Glorieta e faz uma narração detalhada:

“No final do inverno de 1862, as forças da União estavam tentando retomar o Novo México, perdido no ano anterior. Os sulistas foram derrotados na Garganta de Apache Canyon, mas receberam reforços e recuperaram terreno. Os nortistas desembocaram a sua artilharia no cume do Passo Glorieta. A carnificina prosseguiu alternadamente por todo um longo dia.
Ao cair da noite parecia que o Sul tinha vencido. Os soldados da União batiam em retirada desordenada do outro lado do Passo. Mas os confederados teriam que esperar pra cantar vitória.
(...)
Eu, Dick e uma centena de soldados da União descemos no vazio, ao longo das cordas. O abismo parecia não terminar nunca, mas todos tocamos a terra são e salvos, perto do rancho de Johnson, onde os confederados tinham deixado a sua retaguarda com todas as carroças de provisões, mantimentos, armas, munições e os cavalos de escolta. Era evidente que não esperavam uma visita nossa.
(...)
Em breve os últimos sobreviventes se renderam em menos de uma hora, e quase sem perdas, tínhamos destruído todo o comboio que servia de apoio ao Exército Confederado do Oeste. Setenta e cinco carroças de víveres, armas, munições, uniformes, remédios, tendas, utensílios, tudo estava virando cinza!”
(...)
Graças à nossa ação de guerrilha, a derrota do Norte se transformou em vitória. Sem armas e mantimentos, os sulistas tiveram que abandonar as posições e recuar para Santa Fé. Alguns dias depois, a cidade foi evacuada e nós conquistamos quase sem disparar um tiro. O Novo México voltava assim inteiramente, às mãos da União.”[21]

Após a Batalha do Passo Glorieta, Tex e Dick Furacão (seu companheiro nos tempos da guerra) encontram um destacamento sulista e um punhado de civis sitiados por índios kiowas e combatem ao seu lado. Ao grupo junta-se o tenente sulista Beau Danville que conduzia uma investigação sobre venda de armas aos índios kiowas. Tex justifica-se por que combate pela União contra sua terra (o Texas) em conversa com o tenente Danville, antes da morte deste em combate e do resgate do grupo pelo Exército Confederado: “Luto pela causa que considero justa. Desta vez é Texas que está do lado errado.”[22]

Em “Entre Duas Bandeiras”[23] inicia-se a história da participação de Tex na destruição do sulista Forte Henry e na violenta Batalha de Shiloh[24]. A Batalha de Shiloh ocorreu em 6 de abril de 1862, o Exército Confederado, comandado pelo general Albert Johnston, atacou de surpresa o Exército da União, comandado pelo general Ulysses Grant. O combate terminou sem que se pudesse apontar um vencedor. Ao final da batalha Tex e seu companheiro Dick Furacão, engajados como exploradores do Exército da União, reencontram Rod, ex-companheiro de caçadas de cavalos selvagens, soldado confederado mortalmente ferido:

“ Sem trocar uma palavra, cavamos uma cova profunda perto da base da árvore em que encontramos nosso pobre amigo. Tirei o rifle da minha sela, quebrei-o numa árvore e cravei-o com raiva na terra fresca que cobria o corpo do meu amigo. Logo depois, deixamos o campo de batalha às nossas costas.
Ao chegarmos às margens do Tennessee, entramos no rio com os cavalos.
(...)
_ Vamos avisar o capitão Dark ... a partir deste momento a guerra terminou pra nós! (...) O que vimos hoje foi pra mim como um longo e sinistro raio que iluminou todo o horror de uma guerra fraticida! Quero ser mico de circo se, a partir de hoje, eu não atirar somente em assaltante ou ladrão de gado ou de cavalos!”[25]

Em “Chamas de Guerra”[26] Tex teria a oportunidade de explicar o que considerava uma lutar por uma causa justa:

“(...) o Norte prometeu abolir a escravidão! Só isso! (...) Eu me limito a constatar que o Norte quer a abolição da escravidão, enquanto o Sul pretende mantê-la e assim, como penso que todos os homens são iguais, independente da cor de sua pele pra mim isso é o bastante!”[27]

Nesta ocasião Tex, final de 1864, durante uma missão secreta no Estado da Virgínia conhece dois primos que combatiam em lados opostos na Guerra: John Walcott, oficial da União; e Leslie Walcott, oficial confederado. Em discussão com os dois primos Tex “esquece” sua participação nas batalhas Passo Glorieta e Shiloh: “De nenhuma! Considero a guerra uma maldita loucura e desde o início, jurei que não abraçaria um rifle pra atirar contra meus irmãos!”[28].
O fato de ser um simpatizante nortista em território sulista poderia ser a justificativa para omitir sua condição de combatente ou ex-combatente, mas muitos anos após o episódio, em conversa com Kit Carson, diz que a desilusão com a violência da Guerra era o verdadeiro motivo para tais “esquecimentos”:

“Depois da Batalha de Shiloh, quando vi em todo seu horror a verdadeira face daquele maldito conflito que colocava irmãos contra irmãos, prometi a mim mesmo não disparar um só tiro de rifle! E desde aquele dia, mesmo ficando em zona de operações, me limitei a prestar a minha ajuda aos nortistas, escoltando manadas de gado destinado à subsistência dos soldados ou aceitando levar mensagens de um comando ao outro, ou outras coisas do gênero que não me obrigassem ao uso das arma! (...) Não participei de nenhuma batalha como soldado, embora de vez em quando fosse obrigado a usar armas pra me defender de quem tentava me matar!”[29]

Estranho inconformismo com a violência já que Tex participou (e ainda participaria) de várias brigas e tiroteios com bandidos, índios, Exército dos Estados Unidos, Exército e “rurales” mexicanos. Por coincidência em “Chamas de Guerra”, uma de suas aventuras menos violentas apesar da Guerra, nenhuma das mortes é obra de Tex. Mas são de sua responsabilidade: dez pessoas espancadas; sete pessoas baleadas; sete cavalos baleados; e duas pessoas atropeladas por cavalo.
Ainda na mesma história Tex parte para outra missão secreta: libertar o tenente John Walcott, prisioneiro em Anderville. Acompanhado por Tom, escravo da família Walcott, rouba a farda de um soldado sulista, penetra no campo de prisioneiros e tem uma péssima impressão: “Isto não é um campo de prisioneiros ... é a antecâmara do inferno!”[30]. John Walcott é libertado , mas na fuga Tom se sacrifica para que Tex e John escapem. Sob forte emoção, Tex esquece momentaneamente o juramento feito após a Batalha de Shiloh e reafirma sua adesão aos ideais defendidos pelos nortistas:

“Pobre Tom! Agora mais do que nunca, me baterei contra os malditos bastardos que querem manter sua raça na escravidão!”[31]




5.1.2 - Tex no pós-Guerra
Em “Irmãos Bandidos”[32] Tex e Kit Carson são chamados para colaborar na investigação sobre uma quadrilha de assaltantes de trens que agia no Missouri e contava com a simpatia da local. A quadrilha, muito parecida com o bando liderado pelos irmãos Jesse e Frank James, também era liderada por dois irmãos veteranos sulistas, Bill e Frank Border. Baxter, detetive da Agência Pinkerton resume a situação a enfrentar:

“Sabe melhor que eu que, em certos estados de Sul, e sobretudo nas regiões de fronteira como esta, as feridas provocadas pela guerra ainda não estão cicatrizadas.
(...)
Pras pessoas desses lugares, os assaltantes são heróis, entende? As ferrovias e os bancos são o Norte, os vencedores, os novos patrões, que enganam os pobres agricultores, tirando altos ganhos em suas costas, enquanto os assaltantes são bravos patriotas que retomam o que foi roubado injustamente!
(...)
Um bocado de gente permaneceu ferozmente sulista! Se acrescentar que muitos negociantes do Norte se comportam como abrutes e que alguns políticos locais sopram na fogueira pros seus objetivos, o quadro está completo!
(...) os assaltantes são gente do lugar mesmo, que se aproveitam da hospitalidade que, após cada golpe, possam encontrar nas numerosas fazendas espalhadas pelos arredores!”[33]

Cinco bandidos são mortos, a quadrilha é desarticulada e Tex deixa seu recado: “Esses bandidos não continuariam a cometer seus crimes se as pessoas honestas como vocês não os ajudassem!”[34]
“O Ouro dos Confederados”[35] é a aventura em que Tex e Kit Carson perseguem Buchanan, ex-capitão do Exército Confederado, que foge de uma prisão com a cumplicidade de um sargento e um seguidor da Ku Klux Klan. O Capitão Buchanan leva seus homens a um pântano, onde escondeu um navio de guerra com um tesouro em lingotes de ouro no porão. Novamente nas entrelinhas da história, vê-se que “as feridas da Guerra ainda não estão cicatrizadas”.
Tex e Kit Carson infiltram-se no “Novo Exército Confederado” em “O Último Rebelde”[36]. O “Novo Exército Confederado” é uma organização pós-Guerra de Secessão constituída por ex-militares sulistas que, além de financiar-se através de assaltos a bancos, diligências e vagões postais, não deixava testemunhas vivas após suas ações. O estado-maior do “Novo Exército Confederado” era constituído pelo general Jackson (seu comandante-em-chefe), coronel Gilmore, coronel Finnegan, major Corbett e capitão John Fremont. Segundo Fremont, o general Jackson:

“Nunca aceitou a derrota e depois de tirar alguns anos de cadeia, onde foi parar por ter se recusado a depor as armas, decidiu levantar de novo a bandeira humilhada do Sul!”[37]

Tex faz-se passar por um presidiário para se aproximar do capitão Fremont, único membro conhecido do “Novo Exército Confederado”. Juntos escapam de uma penitenciária e, com Kit Carson, vão se refugiar no quartel-general da organização.
O capitão Fremont e o major Corbett, após desviarem recursos obtidos em várias ações, resolvem explodir o paiol de munições e desertar com a totalidade dos recursos da organização. O plano falha e o coronel Gilmore, único membro do estado-maior que sobrevive, desiste da tentativa de rebelião.
Apesar do capitão Fremont trair seus companheiros e declarar que seu único interesse era ganhar dinheiro, novamente Tex vê com simpatia o oficial sulista:

“Sem a sua ajuda não sei como poderíamos sair da armadilha em que estávamos metidos! Quanto a julga-lo um sujeito sem escrúpulos, eu discordo!
(...) acho que era o primeiro a se enganar sobre si mesmo! Deu prova disso não hesitando em sacrificar a própria vida na tentativa de salvar o general Jackson, a quem se preparava pra trair! Pensem o que quiserem mas, quanto a mim,se há um homem que ficará na minha lembrança este homem é o traidor Fremont!”[38]

6 - Considerações finais
Os editores de Tex no Brasil concordam que o período que se inicia na metade da década de oitenta, quando Cláudio Nizzi e Mauro Boselli passaram a fazer parte da equipe de roteiristas e Cláudio Villa, Fábio Civitelli, Miguel Angel Repetto passaram a integrar a equipe de desenhistas, é considerada uma fase de renovação das histórias e do personagem.[39]
Nesse período as histórias de Tex, que na época de seu surgimento eram um sem fim de ação e tiroteios, evoluíram (seguindo a evolução dos próprios leitores) apresentando um personagem que não perdeu suas características originais, mas deixou de ser um apenas um ranger cumpridor do seu dever para transformar-se num cidadão consciente que adota até posições políticas. As histórias de Tex durante a Guerra estão presentes nas duas fases e apresentam todos os elementos dessa evolução.
Nas primeiras histórias em que a Guerra de Secessão é citada, ainda na época do surgimento de Tex (O enigma do hipocampo; O renegado; A morte na grande rocha; Inferno em Pine Bluff; Piutes!), todas de autoria da dupla G. L. Bonelli e Aurélio Galleppini, os tiroteios infernais são mais importantes que a própria Guerra e Tex adota a neutralidade diante do conflito. Nessas histórias a Guerra é um assunto marginal, os assuntos principais são: contrabando de armas; espionagem/sabotagem; índios; e militares. O problema racial, muito importante na Guerra de Secessão, é ignorado (raríssimas vezes aparece um negro na história).
Nas histórias mais recentes (A planície da traição; Entre Duas Bandeiras; Chamas de Guerra; Irmãos Bandidos; O Ouro dos Confederados; O Último Rebelde) a Guerra ou o imediato pós-Guerra são assuntos principais. Tex posiciona-se claramente à favor das forças da União, mostra-se antibelicista e abolicionista convicto. Negros participam da trama ainda de forma secundária, mas recebem o tratamento de “irmão”. Não por coincidência na maioria das histórias desse período, exceção de Entre Duas Bandeiras e O Ouro dos Confederados, os roteiristas são Cláudio Nizzi e Mauro Boselli da equipe de renovadores dos anos oitenta.
Em sua trajetória, Tex foi um pacato rancheiro que fez justiça com as próprias mãos, peão de rodeio, fora-da-lei procurado, um eficiente ranger cumpridor da lei e chefe branco dos navajos. A decisão dos roteiristas de fazer Tex aderir à moderna União contra os conservadores do Sul transforma o ranger truculento em representante de um pensamento progressista. Pensamento progressista cheio de contradições: chama negros e escravos de irmãos e vê dignidade em vários oficiais sulistas escravocratas.
Tex foi sempre um personagem contraditório: prefere submeter bandidos à um processo regular na justiça, apesar de não hesitar em fazer uso de espancamentos e do revólver, ferindo e executando diversas pessoas; com centenas de mortes em seu currículo possui um código de ética particular que não permite balear ou executar pessoas desarmadas nem atirar pelas costas.
Estas contradições permitem a convivência de um personagem íntegro com muita ação em suas histórias, fatores que garantiram sua longevidade e a conquista de uma grande quantidade de admiradores.


7 – Bibliografia
7.1 – Artigos

CROVI, Luca; FREDIANI, Graziano. Ivo Milazzo: a essência do sentimento. In: Tex Gigante, nº 8, novembro 2001, p. 11.

GALLEPPINI, Aurélio. A arte dos quadrinhos. In: Tex Gigante, edição especial, 1993. p. 15.

LOPES, Dorival Vitor. Tex pelo mundo. In: Tex, nº 387, janeiro de 2002. p. 91-98.

_____________; CARVALHO, Hélcio de. 400 vezes Tex. In: Tex, nº 400, fevereiro de 2003.

MARZORATI, Stefano. A saga de um intrépido desenhista. In: Tex Gigante, edição especial, 1993. p. 7-14.

PINA, F. Cleto e. Aos quadradinhos: saudades. Jornal de Notícias, Porto, 9 janeiro 2005. Disponível em: . Acesso: 19 maio 2005.

SCHNEIDER, Júlio. Ferdinando “Tex” Fusco. In: Tex Ouro, nº 7, p. 5.

_____________. Os navajos: de Tex aos nossos dias. In: Tex Anual, nº 5, dezembro de 2003, p.4-9.

_____________. Um homem, muita aventura. In: Tex Anual, nº 6, dezembro de 2004. p. 5-14.

_____________. Um naturalista no velho oeste. In: Tex Anual, nº 6, dezembro de 2004. p. 349-354.

TRAVERSA, Mauro. Nizzi e Boselli: dois estilos diferentes para o mesmo herói. In: Tex Anual, nº 5, dezembro de 2003. p. 361-365.

7.2 – Sites na Internet
Portal TEXBR - Tudo sobre Bonelli Comics. URL: .
Tex World. URL: .
Enciclopédia Wikipédia em Português. URL: .
uBC Fumetti - il portale definitivo sobre fumetti in rete. URL: .
De Nederlandse Tex Willer Homepage. URL:

7.3 – Livros e enciclopédias
Eisenberg, Peter Louis. Guerra civil americana. Coleção Tudo é história. São Paulo: Brasiliense, 1982.

Enciclopédia Microsoft Encarta. CD-ROM. Microsoft Corporation: 1993-1999.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural. São Paulo: Nova Cultural, 1998.

7.4 – Revistas de Histórias em Quadrinhos
Almanaque Tex
Tex
Tex Coleção
Tex Edição Anual
Tex Edição Histórica
Tex e os Aventureiros
Tex Gigante
Tex Ouro
Batman: a Guerra da Secessão. Série Túnel do Tempo. Editora abril, abril 1993.


Notas:
[1] Temas de Aventuras. Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2005.
[2] O passado de Tex. Tex Edição Histórica, nº 47, abril de 2001, p. 18-19.
[3] Idem, p. 45-47.
[4] Arte da capa de Oklahoma! Tex, nº 300, outubro 1994.
[5] Fort Defiance. Tex Edição Histórica, nº 58, março 2003, p. 84-85.
[6] “_ Pro diabo! Você disse que um deles era um garoto?
_ Exato! Não tem mais que 16 ou 17 anos!” Diálogo de: Inferno em Pine Bluff. Tex Edição Histórica, nº 14, outubro 1995, p. 107
[7] Schneider, Júlio. Os navajos de Tex aos nossos dias. In: Tex Anual, nº 5, p.4-5.
[8] Zagor, gênero faroeste, Mister No, aventura, Nick Raider, policial, e Dampyr, terror/aventura, são personagens publicados pela Sergio Bonelli Editores.
[9] Galleppini, Aurélio. A arte dos quadrinhos. In: Tex Gigante, edição especial, 1993, p. 15.
[10] Conforme: Dorival Vitor Lopes. Tex pelo mundo. In: Tex, nº 387, janeiro de 2002. p. 91-98;Tex Willer in het Buitenland. Disponível em: . Acesso em: 29 maio 2005.
[11] Lançada no Brasil como: O Cavaleiro Solitário. Tex Gigante, nº 9, março 2002.
[12] O número 149, último da 2ª edição, foi lançado em março de 1988.
[13] Batman: a Guerra da Secessão. Série Túnel do Tempo. Editora Abril, abril 1993. p. 5. Curioso episódio em que o mascarado Tenente Coronel Bruce Wayne, da Cavalaria nortista, investiga o sumiço de milhões em ouro e prata do tesouro da União e encontra Kit Carson, militar americano que realmente existiu.
[14] Batalha de Gettysburg. In:Enciclopédia Microsoft Encarta. 1993-1999 Microsoft Corporation.
[15] O enigma do hipocampo.Tex Edição Histórica, nº 11, abril 1995.
[16] Estados Unidos e México estiveram em guerra entre 1846 e 1848, devido à anexação da República do Texas pelos Estados Unidos. Com a derrota o México perdeu também a Califórnia e o Novo México.
[17] O renegado. Tex Edição histórica, nº 12, junho 1995, p. 8-9.
[18] A morte na grande rocha. Tex Edição Histórica, nº 12, junho 1995, p.108.
[19] Inferno em Pine Bluff. Tex Edição Histórica, nº 14, outubro 1995, p. 73-74.
[20] Piutes! Edição Histórica, nº 17, abril 1996.
[21] A planície da traição. Almanaque Tex, nº 2, maio 2000, p. 26-46.
[22] Idem, p. 45.
[23] Entre Duas Bandeiras. Tex Coleção, nº 160, maio 2000.
[24] “Entre duas Bandeiras” teve seqüência em: Quando Troam os Canhões. Tex Coleção, nº 161, junho 2000; De Frente Para o Inimigo. Tex Coleção, nº 162, julho 2000; Um Dia de Sangue. Tex Coleção, nº 163, agosto 2000.
[25] Um Dia de Sangue. Tex Coleção, nº 163, agosto 2000. p. 56-58
[26] Chamas de Guerra. Tex Ouro, nº 4, janeiro 2003.
[27] Idem, p. 22-23
[28] Ibidem, p.23.
[29] Ibidem, p. 8.
[30] Ibidem, p. 141.
[31] Ibidem, p.177.
[32] Irmãos Bandidos. Tex Ouro, nº 15, novembro 2004.
[33] Idem, p.7-11.
[34] Ibidem, p. 88.
[35] O Ouro dos Confederados. Tex Anual, nº 2, dezembro de 2000.
[36] O Último Rebelde. Tex Gigante, nº 10, outubro 2002.
[37] Idem, p. 130.
[38] Ibidem, p. 239-241.
[39] Correio do Oeste. Tex, nº 426, abril 2005, p. 114.

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